Caipira
Em uma quinta a noite de sertanejo eis que eu conheço o Caipira. Bonitinho, engraçadinho, xavequeirinho, com aquele sotaque de interior que eu acho um charme. Eu beijei, beijei de novo, fui fumar um cigarro e na volta ele tinha sumido. Ok. Normal. Balada. Encontrei outros amigos, conheci o Lipo, beijei o Lipo também. Ok. Normal. Balada. Mas o Lipo era SIMPLESMENTE INSUPORTÁVEL. Daqueles malas que se acham a última coca do deserto porque tem dinheiro, charme (isso é relativo) e fizeram uma lipo, portanto são magros. Não via a hora do tal Lipo ir embora e desejei isso tão forte que, quando ele foi no banheiro, o Caipira apareceu de novo e eu dei uma banana pro Lipo. E a beleza, a graça e os xavecos dele foram ficando melhores (diretamente proporcional ao meu nível alcoólico). E tava tudo tão bom que eu quis levar ele pra casa, só tinha um pequeno detalhe: eu não ia dormir em casa, ia dormir na casa da Melhor Amiga.
Melhor Amiga – Vambora?
Eu – Ainda não, só mais um pouquinho, eu tô aqui no maior papo (entenda-se pegação) com o Caipira…
Melhor Amiga – Mas a gente tem que ir embora, amanhã ainda é sexta…
Eu – Só mais um pouquinho, vai?
Melhor Amiga – Vai te fazer feliz se ele for embora pra casa com a gente?
Eu – Muito!
Melhor Amiga – Então vamo! Vamo Caipira, a gente vai lá pra casa tocar violão e bater papo…
Isso é que é amiga, né? O Deus Nipônico (namorado da Melhor Amiga e também meu amigo), não gostou muito não.
Deus Nipônico – Como assim você vai levar pra casa da Melhor Amiga um cara que você nem conhece?
Nem liguei. O Caipira tava ficando cada vez mais interessante. Já na casa dela, papo vai, violão vem e a frase pela qual eu esperei a noite inteira: “Vamo dormir que amanhã ainda é sexta?”. Vamos, Caipira, CLARO. Nem preciso dizer o que aconteceu, né? De manhã, olhei bem pro Caipira enquanto ele dormia e continuei achando ele uma belezinha. Estranho, eu já tava sóbria. Ele foi embora, me deu um beijo de tchau e eu achei que nunca mais ia ouvir falar nele. Eis que quando é três da tarde, ele me liga. ME LIGA. O cara que menos precisava ter ligado no mundo, porque já tinha conseguido tudo e mais um pouco na primeira noite. E eu fiquei feliz, e fiquei querendo encontrar com ele de novo, o que aconteceu uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes. Até caxumba pro pobrezinho eu passei.
Caipira – Olha (imaginem mentalmente o sotaque do interiorrr de São Paulo, ‘fii’), eu não quero namorar, detesto namorar, tenho medo da palavra namoro, mas se eu tivesse que namorar alguém, ia ser você. Você é sucesso!
Ahhhnnn, xaveco bom daqueles que esquentam o coração. Ele era mesmo uma belezinha. E aí eu fui conhecer a coleção de carrinhos dele, na casa dele, no quarto dele (bom eufemismo, não?), e a gente ficou meses e meses sem se ver, sem se falar, sem se procurar, até que perto da Copa ele mandou vários SMS querendo me ver de novo. Eu soltinha na vida topei. Ele era bom naquilo, era uma belezinha e xavecava direito. E o encontro foi melhor do que eu imaginava, com altos papos sobre a vida com intervalos pra cerveja e pra mais xavecos.
Caipira – Sabe, tem uma hora que a gente cansa dessa vida besta de balada, pegação e tal, né? Tô chegando nessa fase. Vou me formar, trabalho, tenho quase 25 anos, já era hora de sossegar, né?
E aí o perigo: aquele botãozinho de ‘não se envolva’ desligou automaticamente em mim. Se ele queria se envolver, por que não comigo? Ele já tinha dito que eu era a menina mais namorável que ele conhecia (claro que ele dizia isso pra todas, mas né? Mulher é um bicho besta, mesmo!), e eu tava carente, carentona, querendo um corpo quente no domingo à noite. Papo vai, papo vem, beijos vão, beijos vêm, chegam Deus Nipônico e Melhor Amiga, aquele clima de casal…já tava me sentindo casada e com três filhos.
Caipira – Tá tarde, preciso ir embora porque eu tenho uma apresentação amanhã, mas ó, hoje foi demais. Você é demais, sério. Adoro sair com você, é sempre tão bom…quero te ver sem falta semana que vem, com menos pressa.
Lindo, né? Pergunta se depois daquilo ele ligou de novo? Pois é. Não ligou. Tudo bem, o botão ‘não se envolva’ só desligou naquela noite, e foi bom pro ego, pra auto-estima, até um pouco bom pro coração. Mas eu penso no por que do Caipira (e tantos outros) dizer coisas bonitas se ele não quer realmente dizer…depois todo mundo acha que os homens são mais fáceis de entender do que as mulheres…mas tudo bem, tudo bem, a gente supera e, quando ele quiser que eu veja a coleção de carrinhos dele de novo, talvez eu tope. É assim que funcionam os relacionamentos contemporâneos, não sei se feliz ou infelizmente.